Comprar, um verbo que as crianças conjugam cada vez mais cedo. Mas o que fazer para que os pequenos de hoje sejam consumidores conscientes amanhã?
Juliana, a minha filha de sete anos, quis comprar um ursinho de pelúcia logo depois de uma sessão de cinema no shopping. Para mim o pedido soou totalmente descabido. A Juliana não brinca mais com bichos de pelúcia, fizemos uma “limpeza” recentemente em casa e doamos tudo o que servia apenas para lotar as prateleiras dos armários. Além disso, o tal ursinho era bem caro. “ Mas mamãe, eu não achei mais nada que eu gostasse para levar”, justificou Juliana, inocentemente.
Como não ser consumista em uma sociedade de consumo? Ninguém nasce consumista. A verdade é que está cada vez mais difícil resistir a tantos apelos - e nem as crianças escapam. Todos são impactados pela publicidade e estimulados a consumir de forma inconsequente. O consumismo infantil atinge todas as faixas etárias e classes sociais. Que mãe não se rende aos pedidos do filho?
Infelizmente, muitas famílias gastam o que não podem para satisfazer os desejos materiais dos pequenos. A babá Solange Fernandes Brasil, que participou do “Programa Papo de Mãe” sobre este tema, e é mãe de cinco filhos, se endividou para comprar um videogame para Ewanderson, de 12 anos. O garoto mal usou o brinquedo. Quando ela ainda pagava as prestações do jogo eletrônico, o adolescente já sonhava com um modelo mais novo...
O “Projeto Criança e Consumo”, do Instituto Alana, foi criado em 2005 para divulgar e debater as consequências do consumismo: a erotização precoce, a obesidade infantil, o uso de tabaco e o abuso do álcool na juventude, o estresse familiar e a banalização da violência. Em entrevista para o “Programa Papo de Mãe”, a coordenadora do projeto e advogada Isabella Henriques, disse que o grande problema é a publicidade que é voltada para o público infantil: a publicidade que “fala” diretamente com as crianças, feita, muitas vezes, em desenho animado.
A psicóloga do Instituto Alana, Maria Helena Marquetti, concluiu: “a publicidade nunca diz ‘não’ para a criança”. Ela é sempre bacana e isto cria uma situação desigual: enquanto a publicidade está sempre dizendo ‘sim’, ela obriga os pais a sempre falarem ‘não’. Para a psicóloga, “os pais também são vítimas disso tudo”.
(por Roberta Manreza, em Papo de Mãe)