domingo, 30 de janeiro de 2011

Criança e Consumo

Comprar, um verbo que as crianças conjugam cada vez mais cedo. Mas o que fazer para que os pequenos de hoje sejam consumidores conscientes amanhã?

Juliana, a minha filha de sete anos, quis comprar um ursinho de pelúcia logo depois de uma sessão de cinema no shopping. Para mim o pedido soou totalmente descabido. A Juliana não brinca mais com bichos de pelúcia, fizemos uma “limpeza” recentemente em casa e doamos tudo o que servia apenas para lotar as prateleiras dos armários. Além disso, o tal ursinho era bem caro. “ Mas mamãe, eu não achei mais nada que eu gostasse para levar”, justificou Juliana, inocentemente.

Como não ser consumista em uma sociedade de consumo? Ninguém nasce consumista. A verdade é que está cada vez mais difícil resistir a tantos apelos - e nem as crianças escapam. Todos são impactados pela publicidade e estimulados a consumir de forma inconsequente. O consumismo infantil atinge todas as faixas etárias e classes sociais. Que mãe não se rende aos pedidos do filho?

Infelizmente, muitas famílias gastam o que não podem para satisfazer os desejos materiais dos pequenos. A babá Solange Fernandes Brasil, que participou do “Programa Papo de Mãe” sobre este tema, e é mãe de cinco filhos, se endividou para comprar um videogame para Ewanderson, de 12 anos. O garoto mal usou o brinquedo. Quando ela ainda pagava as prestações do jogo eletrônico, o adolescente já sonhava com um modelo mais novo...

O “Projeto Criança e Consumo”, do Instituto Alana, foi criado em 2005 para divulgar e debater as consequências do consumismo: a erotização precoce, a obesidade infantil, o uso de tabaco e o abuso do álcool na juventude, o estresse familiar e a banalização da violência. Em entrevista para o “Programa Papo de Mãe”, a coordenadora do projeto e advogada Isabella Henriques, disse que o grande problema é a publicidade que é voltada para o público infantil: a publicidade que “fala” diretamente com as crianças, feita, muitas vezes, em desenho animado.

A psicóloga do Instituto Alana, Maria Helena Marquetti, concluiu: “a publicidade nunca diz ‘não’ para a criança”. Ela é sempre bacana e isto cria uma situação desigual: enquanto a publicidade está sempre dizendo ‘sim’, ela obriga os pais a sempre falarem ‘não’. Para a psicóloga, “os pais também são vítimas disso tudo”.

(por Roberta Manreza, em Papo de Mãe)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O inferno são os outros

  (por Maria Maura Fadel – revista Mente e Cérebro nº215)


O filósofo francês Jean-Paul Sartre tinha mesmo razão? A verdade é que, em algum nível, o outro sempre incomoda. O desconhecido, então, nem se fala.
Não raro, somos obrigados a passar muitas das preciosas horas do nosso dia bem perto de pessoas com quem jamais estaríamos sequer cinco minutos se isso dependesse exclusivamente de nossa vontade. Porém, na maioria dos casos de inevitável convívio social, vêm em nosso socorro as regras de boa educação, que funcionam como uma proteção, uma espécie de bálsamo que nos resguarda de desgastantes embates.
Podem parecer meros vernizes sociais, mas por trás delas estão entrelaçados conceitos que nos separam (na medida em que explicitam necessidades individuais), protegendo-nos como se fossem redes de contenção e, ao mesmo tempo, nos aproximam de nossos semelhantes, pois permitem trocas em, alguns casos, até o reconhecimento do quanto, em essência, somos vulneráveis e parecidos uns com os outros.
O ato de pedir licença nos lembra que há limites – nossos e alheios – a serem reconhecidos e respeitados. Um corriqueiro ‘por favor’ encerra o reconhecimento de que necessitamos da empatia e, em consequência, da atitude benevolente do interlocutor. A gratidão, no sentido do reconhecimento de que um benefício ou auxílio (por mínimo que seja) nos foi prestado, traz consigo duas ideias implícitas interessantes: primeiro a de que merecemos e podemos receber algo; segundo, somos capazes de perceber e aceitar algo de positivo que nos foi ofertado. Guardadas as devidas proporções e desdobramentos, tanto no microuniverso dos relacionamentos pessoais quanto nas trocas diplomáticas entre países, em última análise valem as mesmas estruturas que sustentam relações mais ou menos profundas e complexas. Naturalmente, as palavras, por si sós, podem ser enganosas. Qualquer uma delas assume conotações diversas, dependendo do contexto e do tom com que são pronunciadas. Ditas de forma sincera, conectadas ao que realmente sentimos e desejamos transmitir, ganham força inusitada. Aí surge o que costumo chamar de o ‘desafio do como’: quando se trata de relacionamento, às vezes vale mais a forma que o conteúdo.
(...) Mas, se você anda convicto de que uma pessoa (ou mais) é responsável por seu inferno particular e tem a incrível capacidade de acabar com a alegria do seu dia, algo pode estar errado,e talvez seja a hora de você voltar a ser o centro de sua vida.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Quando a paz se faz brincando

 por Massimo Barberi (revista Mente e Cérebro nº215)


Conflitos não são necessariamente resolvidos, mas podem ser administrados

Conflito não é violência. Para vencer esse preconceito é necessário considerar a divergência como condição para o amadurecimento psíquico. O conceito de violência também é arbitrário, mas não exime o fato de que precisamos diferenciar as duas dimensões, principalmente afastando a ideia de que, inevitavelmente, o conflito pode resultar em violência.
Quando se consegue permanecer no conflito, evita-se a violência: o problema é conseguir administrá-lo e domesticá-lo. Pode parecer estranho, mas a violência é o oposto da divergência porque tende a suprimir a oposição, eliminando ou prejudicando o outro – tornando-o incapaz de se colocar. Do ponto de vista da educação, acreditar que os conflitos se transformem em violência significa evitá-los como uma oportunidade de aprendizagem. Ter opiniões diferentes, portanto, é salutar. É legítimo, portanto, considerar uma teoria da relação educacional baseada no princípio do ‘saber estar no conflito’. Crianças saudáveis se opõem, se rebelam, contestam e agridem o mundo adulto, esse comportamento faz parte do desenvolvimento.
É possível aprender a administrar o conflito – mas a aprendizagem é difícil. A aquisição dessa habilidade é um percurso interno muito longo. Alguns se deixam tentar pela sereia do aparente bem-estar e da ‘pseudo-harmonia’. O desafio maior, porém, é aprender a negociação e a mediação. Em vez de se envolver nas brigas ou deixar que as crianças se enfrentem sozinhas, aliando-se entre elas, é possível ajudá-las a se tornar pessoas capazes de experimentar formas de se comunicar. Mantendo a neutralidade, o mediador ajuda os adversários a não sair do patamar do problema em si, evitando que a briga piore. Também não ajuda pretender resolver os impasses entre os pequenos, até porque conflito não se resolve, se administra.
Algumas técnicas podem ser úteis para a mediação. A mesa da paz, por exemplo, é uma atividade com objetivo de reconstruir relacionamentos após brigas. Os adversários devem ficar cara a cara, junto com um mediador, para discutir os elementos que levaram ao conflito e, juntos encontrar a maneira de resolvê-los. Tudo deve ser registrado em um livro, que serve como uma espécie de ata da reunião. Já a cesta da raiva é uma cesta de verdade, a ser construída de forma conjunta para que, posteriormente, seja colocada ali uma folha de papel na qual as crianças relatem medos e divergências que lhes provocam raiva. Para os menores um desenho pode ser suficiente.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Síndrome Pós-Natalina

por Christian Ingo Lenz Dunker (psicanalista e professor da USP – revista Mente e Cérebro nº216)

Uma síndrome implica a combinação de signos clínicos que, reunidos, formam sintomas em um quadro regular. Não é necessário que todos os sinais estejam presentes, que a sua intensidade seja a mesma ou que se apresente uma causa comum. Assim, o caso da síndrome pós-natalina, que acomete principalmente pessoas de meia-idade, quase não ocorre em crianças e tende a reduzir-se após os 60 anos. É possível que a reincidência produza, a longo prazo, imunização. Os sinais característicos da síndrome incluem irritabilidade, reatividade, explosões alternadas de ternura e violência, agitação psicomotora e, sobretudo, sensação de asfixia psíquica.
E asfixia não é apenas falta de ar: pode se mostrar na forma de sentimentos persecutórios como de ser invadido por olhares, comparações e julgamentos vindos do outro ou de si mesmo. A síndrome apresenta-se geralmente em duas fases: no Natal comparamos o que somos com o que deveríamos ser; no ano-novo comparamos o que queremos ser com o que somos. Passamos o Natal com a família para lembrar quem somos e viajamos no ano-novo para esquecer quem somos (*interessante!!).  Assim como uma crise ou bolha financeira, a síndrome é gerada por uma corrida aos bancos do narcisismo em busca de ideais, expectativas e lembranças depositados. Nesta época do ano há uma estranha inflação sazonal. Ocorrem uma desvalorização e uma supervalorização simultânea do ‘mercado’ do bem-estar e da infelicidade, a saber, a economia da crença.
(...) Mas não adianta fugir do real. Se todo mundo for objetivamente resgatar seu investimento desejante, iremos à falência... todos juntos. É exatamente isso que ocorre na síndrome em questão. Primeiro uma corrida aos bancos do desejo para verificar se nossos sonhos ainda estão lá e depois a pressa para inventar algo em nome de que a vida possa prosseguir.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Curso Virtual para (ajudar) Educar os Filhos



Proposta da Escola Virtual para Pais sendo que a programação paga inclui palestras e diálogos on-line para discussão de temas como dificuldades de aprendizagem, separação e recasamento dos pais, guarda compartilhada, entre outros. Os cursos custam em média R$ 100,00 (via revista Mente & Cérebro).


sábado, 15 de janeiro de 2011

“Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante, vai ser diferente”  (Carlos Drummond de Andrade)

domingo, 2 de janeiro de 2011

Gente, feliz ano novo a todos!!!