quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O inferno são os outros

  (por Maria Maura Fadel – revista Mente e Cérebro nº215)


O filósofo francês Jean-Paul Sartre tinha mesmo razão? A verdade é que, em algum nível, o outro sempre incomoda. O desconhecido, então, nem se fala.
Não raro, somos obrigados a passar muitas das preciosas horas do nosso dia bem perto de pessoas com quem jamais estaríamos sequer cinco minutos se isso dependesse exclusivamente de nossa vontade. Porém, na maioria dos casos de inevitável convívio social, vêm em nosso socorro as regras de boa educação, que funcionam como uma proteção, uma espécie de bálsamo que nos resguarda de desgastantes embates.
Podem parecer meros vernizes sociais, mas por trás delas estão entrelaçados conceitos que nos separam (na medida em que explicitam necessidades individuais), protegendo-nos como se fossem redes de contenção e, ao mesmo tempo, nos aproximam de nossos semelhantes, pois permitem trocas em, alguns casos, até o reconhecimento do quanto, em essência, somos vulneráveis e parecidos uns com os outros.
O ato de pedir licença nos lembra que há limites – nossos e alheios – a serem reconhecidos e respeitados. Um corriqueiro ‘por favor’ encerra o reconhecimento de que necessitamos da empatia e, em consequência, da atitude benevolente do interlocutor. A gratidão, no sentido do reconhecimento de que um benefício ou auxílio (por mínimo que seja) nos foi prestado, traz consigo duas ideias implícitas interessantes: primeiro a de que merecemos e podemos receber algo; segundo, somos capazes de perceber e aceitar algo de positivo que nos foi ofertado. Guardadas as devidas proporções e desdobramentos, tanto no microuniverso dos relacionamentos pessoais quanto nas trocas diplomáticas entre países, em última análise valem as mesmas estruturas que sustentam relações mais ou menos profundas e complexas. Naturalmente, as palavras, por si sós, podem ser enganosas. Qualquer uma delas assume conotações diversas, dependendo do contexto e do tom com que são pronunciadas. Ditas de forma sincera, conectadas ao que realmente sentimos e desejamos transmitir, ganham força inusitada. Aí surge o que costumo chamar de o ‘desafio do como’: quando se trata de relacionamento, às vezes vale mais a forma que o conteúdo.
(...) Mas, se você anda convicto de que uma pessoa (ou mais) é responsável por seu inferno particular e tem a incrível capacidade de acabar com a alegria do seu dia, algo pode estar errado,e talvez seja a hora de você voltar a ser o centro de sua vida.

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