terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Quando a paz se faz brincando

 por Massimo Barberi (revista Mente e Cérebro nº215)


Conflitos não são necessariamente resolvidos, mas podem ser administrados

Conflito não é violência. Para vencer esse preconceito é necessário considerar a divergência como condição para o amadurecimento psíquico. O conceito de violência também é arbitrário, mas não exime o fato de que precisamos diferenciar as duas dimensões, principalmente afastando a ideia de que, inevitavelmente, o conflito pode resultar em violência.
Quando se consegue permanecer no conflito, evita-se a violência: o problema é conseguir administrá-lo e domesticá-lo. Pode parecer estranho, mas a violência é o oposto da divergência porque tende a suprimir a oposição, eliminando ou prejudicando o outro – tornando-o incapaz de se colocar. Do ponto de vista da educação, acreditar que os conflitos se transformem em violência significa evitá-los como uma oportunidade de aprendizagem. Ter opiniões diferentes, portanto, é salutar. É legítimo, portanto, considerar uma teoria da relação educacional baseada no princípio do ‘saber estar no conflito’. Crianças saudáveis se opõem, se rebelam, contestam e agridem o mundo adulto, esse comportamento faz parte do desenvolvimento.
É possível aprender a administrar o conflito – mas a aprendizagem é difícil. A aquisição dessa habilidade é um percurso interno muito longo. Alguns se deixam tentar pela sereia do aparente bem-estar e da ‘pseudo-harmonia’. O desafio maior, porém, é aprender a negociação e a mediação. Em vez de se envolver nas brigas ou deixar que as crianças se enfrentem sozinhas, aliando-se entre elas, é possível ajudá-las a se tornar pessoas capazes de experimentar formas de se comunicar. Mantendo a neutralidade, o mediador ajuda os adversários a não sair do patamar do problema em si, evitando que a briga piore. Também não ajuda pretender resolver os impasses entre os pequenos, até porque conflito não se resolve, se administra.
Algumas técnicas podem ser úteis para a mediação. A mesa da paz, por exemplo, é uma atividade com objetivo de reconstruir relacionamentos após brigas. Os adversários devem ficar cara a cara, junto com um mediador, para discutir os elementos que levaram ao conflito e, juntos encontrar a maneira de resolvê-los. Tudo deve ser registrado em um livro, que serve como uma espécie de ata da reunião. Já a cesta da raiva é uma cesta de verdade, a ser construída de forma conjunta para que, posteriormente, seja colocada ali uma folha de papel na qual as crianças relatem medos e divergências que lhes provocam raiva. Para os menores um desenho pode ser suficiente.

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