segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Síndrome Pós-Natalina

por Christian Ingo Lenz Dunker (psicanalista e professor da USP – revista Mente e Cérebro nº216)

Uma síndrome implica a combinação de signos clínicos que, reunidos, formam sintomas em um quadro regular. Não é necessário que todos os sinais estejam presentes, que a sua intensidade seja a mesma ou que se apresente uma causa comum. Assim, o caso da síndrome pós-natalina, que acomete principalmente pessoas de meia-idade, quase não ocorre em crianças e tende a reduzir-se após os 60 anos. É possível que a reincidência produza, a longo prazo, imunização. Os sinais característicos da síndrome incluem irritabilidade, reatividade, explosões alternadas de ternura e violência, agitação psicomotora e, sobretudo, sensação de asfixia psíquica.
E asfixia não é apenas falta de ar: pode se mostrar na forma de sentimentos persecutórios como de ser invadido por olhares, comparações e julgamentos vindos do outro ou de si mesmo. A síndrome apresenta-se geralmente em duas fases: no Natal comparamos o que somos com o que deveríamos ser; no ano-novo comparamos o que queremos ser com o que somos. Passamos o Natal com a família para lembrar quem somos e viajamos no ano-novo para esquecer quem somos (*interessante!!).  Assim como uma crise ou bolha financeira, a síndrome é gerada por uma corrida aos bancos do narcisismo em busca de ideais, expectativas e lembranças depositados. Nesta época do ano há uma estranha inflação sazonal. Ocorrem uma desvalorização e uma supervalorização simultânea do ‘mercado’ do bem-estar e da infelicidade, a saber, a economia da crença.
(...) Mas não adianta fugir do real. Se todo mundo for objetivamente resgatar seu investimento desejante, iremos à falência... todos juntos. É exatamente isso que ocorre na síndrome em questão. Primeiro uma corrida aos bancos do desejo para verificar se nossos sonhos ainda estão lá e depois a pressa para inventar algo em nome de que a vida possa prosseguir.

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